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Blog da Sah Oliveira

Preta retinta que dificilmente fica calada: o que aprendi no mundo da moda

Sah Oliveira

02/05/2020 04h00

Caroline Castrol Foto: Divulgação

Nós, mulheres, estamos conquistando nossos espaços por direito, mas a nossa luta continua diariamente. Mas existe muito o que conquistar ainda, a nossa luta tem que perseverar. Principalmente no mundo da moda onde temos poucas mulheres retintas, sempre vemos um falsa diversidade, onde só existe uma mulher negra para representar todas.

A Caroline é uma mulher poderosa, que mesmo com pouco tempo nessa carreira de trabalho já tem muita coisa para contar. Quero que você entenda que não é facil, nunca foi e está longe de ser mas que somos capazes, que somos lindas, poderosas e que chegaremos no topo. Aaliás, já estamos chegando lá. Somos mulheres pretas, fortes, inteligentes, e não viemos para pouco!

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Leia a seguir o relato da Caroline.

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A  Caroline Castrol, tem 24 anos e é  modelo há quase dois. Preta retinta que leva consigo a  autenticidade e dificilmente fica calada quando se depara com algo errado. A partir dessa minha mínima descrição, já  é possivel notar como é pesada minha vida no mundo da moda, né?

Não só minha, mas como de vários pretos que tem que ouvir coisas e quando os outros acham que devemos ficar calados –quando não ficamos, somos tachados como "favelados" que não sabem dialogar ou não servem para trabalhar, mesmo usando as palavras certas  sem grosserias e muito menos descendo do salto.

Porque a gente que é preto aprende desde cedo a como se portar para saber ser ouvido sem ser tachado como barraqueiro, mas, mesmo assim, basta sair uma discussão e já somos tachados.

As pessoas acham que as portas estão se abrindo para os negros no mundo da moda como se estivéssemos sendo aceitos, mas na verdade  cada dia que passo neste meio vejo que isso dificilmente está perto de acontecer: o racismo ainda está ali, o racismo é estrutural e pesado, bem pesado.

O tratamento? Não é o mesmo nem de longe. São maquiadores despreparados que não sabe acertar o tom de pele de um preto, que não tem material. E a gente que é preto a cada dia de trabalho tem o desespero de ter que ficar com a pele cinza ou de ter o cabelo mal cuidado.

Já perdi as contas de quantas vezes fiquei cinza e tive vontade de chorar, quantas vezes vi meninas tristes porque não queriam tocar no cabelo dela –diziam que não precisava, mas na verdade não sabiam nem tocar. Ou das vezes que fiz uma grife e era a única negra e era como se eu nem tivesse ali. Lembro uma vez que fui a um evento como modelo de uma marca de grife e escutei a mulher falando para mim que pessoas como a gente nem devem entrar. Eu perfeitamente entendi que ela estava dizendo pessoas como eu.

O mercado ainda não está preparado para ter  modelos negros no mercado e eles não estão nem um pouco preocupados em se preocupar, eles só estão nos dando espaços porque estão sendo obrigados a fazer isso pela força que estamos mostrando. Mostramos que podemos correr atrás dos nossos direitos e sonhos e que somos capazes de fazer coisas tão bem quanto qualquer outra pessoa.

Mas, quantas vezes você já viu o povo da moda pegar ideia da gente que é preto e colocar um branco para produzir? Eles sabem que temos talentos, sabe dos nossos potenciais, sabe que não existe ninguém melhor que outro preto para cuidar da gente, mas, mesmo assim, dificilmente eles dão espaço.

Estou em uma luta para ocupar espaço onde eu sei que, se eu fosse branca, já teria ocupado há muito tempo. Isso não deveria ser assim, não deveria estar assim! Os talentos são os mesmos, assim como a vontade e a coragem. Talvez seja até mais. Mas como vamos ocupar espaço se a mídia/moda não dá este valor a gente?

Infelizmente ainda é muito difícil combater o racismo no mundo da moda e ainda tem a mídia que trabalha para colocar os negros uns contra os outros, os impedindo ainda mais de se juntarem quando deveriam estar se ajudando. O mundo da moda já foi pior, mas continua cruel.

Caroline Castrol Foto: Divulgação

Sobre a autora

Com 23 anos, Sah é formada em Marketing na Universidade UBC e em Comércio Exterior pelo IFSP. Suzanense (SP), de família simples, conquista o público com sua simpatia, buscando sempre atender atenciosamente quem a acompanha.

Sobre o blog

Dicas de cuidados com o cabelo crespo e de beleza negra. Aqui você vai aprender técnicas para deixar os seus cachos ainda mais bonitos e vai entender melhor como lidar com o seu tipo de cabelo.

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